A ESPERTEZA DO CORONEL
É
o velho coronel, chefe político em Ribeirão Vermelho, chamou seu menido de
recados.
__Hermelino,
Hermelino, venha cá seu moleque.
__Já
tô ino, seu coroner.
__
Vá chamar o Indalécio, o João Domingues e o Chico Paranaguá, e ligeiro viu,
moleque!
__É
pra já, coroner, to ino.
Pouco
depois chegavam os três empregados do coronel.
__”Viu
rapaziada”, falou o coronel; “Eu quero saber como está a lavoura, se já está
tudo carpido”.
__”
Bem, acho que farta carpi ainda uns doze arqueres” respondeu o Indalécio, “
aquele que fica perto da água da divisa, o resto, tá tudo no limpo”
__”
E tem gente pra fazer o serviço”? indagou o coronel.
“Lá dificí de arruma camarada”, falou o João
Domingues, “tão tudo ocupado na lavoura deles”.
__”Bem”,
falou o coronel, “Vamos fazer igual fizemos no ano passado, você vão, cada um
para um lado, visitem todos aqueles que tiverem filhos com idade entre dezoito
e vinte e poucos anos, e fale para eles virem aqui no domingo cedo, certo”?
Quando
chegou o domingo, bem cedinho, foram chegando os convidados pelos capangas do
coronel, e foram se reunindo no pateo da fazenda.
Saindo
no alpendre da casa grande, o coronel foi falando.
__Pois
é pessoal, eu recebi uma carta de São Paulo, falando que o General do Exercíto
vai convocar os filhos de vocês pra servir o governo, e como vocês sabem a vida
lá é dura!
Vocês
devem imaginar como eles vão sofrer...vão ficar um ano fora de casa...lá eles
ficam até dois dias sem comer,... Se fizerem qualquer coisa errada, são presos
e apanham todos os dias... e o pior é que às vezes viram mulher dos mais
velhos... a vida deles varia um inferno!
Logo,
os pais começaram a resmungar:
__”Credo
im Cruiz”, “Deus zo livre i guarde”,”cuitado do meu fio” e outros lamentos até
que um deles criou coragem e gaguejou!
__Mais
coroner, nem tem jeito do sinhor livrar eles desse aperto?
__”Bem”,
falou o coronel, “ se eu não precisasse limpar a minha lavoura, eu ia até a
capital do estado, e ia falar com o general Ataliba Leonel, que também é
deputado do P.R.P, e resolvia na hora esse licenciamento; mas até eu limpar
minha lavoura, talvez seja tarde demais e não dê mais tempo de conseguir isto.
__Após
um longe silencio, alguém resmungou .
__”Bão
, si o coroner quise, nois vamo fazê um trato”.
__”Que
trato e esse, que o compadre quer fazer? Perguntou o coronel.
__”Si
o Sinhor ajeitá esse tar licenciamento pros nossos fios, nóis limpa a roça pro
senhor” falou o Tônico Ramos.
__”Isso
memo, nóis limpa a lavora do Senhor, nem que gaste a semana inteira”,
responderam os outros pais ali presentes.
__”Bem,
se for assim”, falou o coronel, “amanhã mesmo eu vou até Itararé, pego o trem
pra São Paulo e vou resolver o problema dos moços, e eles vão ficar livres de
servir o governo”.
E
mais uma vez, o coronel limpou sua lavoura de graça. Enquanto os trouxas
capinavam sua róça, o esperto coronel descansava na casa de uns parentes em
Itararé.
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