sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

as margem do Rib. vermelho por J. Maria da silva n°17

                              DEVOLVENDO OS CAVALOS





                   Lá pelos anos mil novecentos e quarenta  ou cinqüenta, o meio de transporte mais comum em Ribeirão Vermelho eram as carroças.
                   Primeiro, por haver na cidade só uns dois ou três caminhões e também pela precariedade das estradas do município, já que naquela época não havia máquinas para conservá-las em condição de transito.
                   Dentre os vários carroceiros, como eram chamados os donos de carroças de aluguel, eu me lembro de alguns: como o Sr. Irineu Barbosa, o Quim Gomes, o Jucão, o Anísio André, o Ismênio Rodrigues que era mais conhecido como seu Mendes, o Noel Limboso, o Zé Pereira entre outros.
                   Eles transportavam de tudo: mudanças lenha, tijolos, sacos de milho, feijão, arroz, pequenos animais e tantas outras coisas que precisavam serem transportadas.
                   Todos os dias, ao sair de casa, eles tratavam bem suas parelhas para que os animais agüentassem o pesado trabalho, e na maioria das vezes os animais eram levados á pastar nas beiras das estradas, ou nos arredores da cidade onde o capim era abundante.
                   Naqueles tempos também, as crianças, para poderem estudar, tinham que vir à cidade, pois na zona rural não havia escola, e muitos tinham que caminhar até sete ou oito quilômetros para estudar no grupo escolar de Ribeirão Vermelho do Sul, hoje: professor Lázaro Soares.
                   Dentre essas crianças estavam o Almíscar, que segundo se ouve, foi mais tarde um dos melhores jogadores de futebol da região, e que hoje cartorario mora em Guarulhos, e seu irmão Celso, já falecido.
                   Conta- se que, que em uma bela tarde, após saírem da escola para irem embora para o sítio onde moravam, e ao passar perto do antigo campo do pedregulho, eles viram dois cavalos pastando, e como não vieram o dono dos animais por perto os irmãos confabularam:
                   _ Que tal se cada um de nós montasse em um destes cavalos e fossemos montados pra casa?
                   _ Da pra ir até o sítio do Fernando Melo, lá nós soltamos os animais e eles voltam pra traz !
                   E assim o fizeram, chegando próximo a morada do Fernando Melo às margens do Ribeirão Vermelho, que corta a propriedade que hoje pertence ao Banco da Terra, os irmãos soltaram os animais que, encontrando pasto abundante e bastante água, ficaram por ali mesmo.
                   No outro dia, quando eles iam novamente à escola, viram os animais pastando lá no alto do morro, e um falou ao outro.
                   _ Vamos pegar os animais e levá-los de volta à cidade?
                   _ “Que nada”, respondeu o irmão, “ Deixe eles lá mesmo, assim os pobres animais descansam da carroça e pastam um capim bem tenro”
                   E continuaram a pé estrada a fora rumo à escola.
                   Ao chegarem na cidade, encontraram o Irineu Barbosa que perguntou:
                   _ Ô gurizada, por acaso ocês não viro uns cavalo lá pro lado onde oces mora?
Os mardito sumiro onte e eu não to achano eles!
                   _”Não vimos nenhum cavalo, não senhor” responderam os meninos.
                   _”Se voceis achá os cavalos e trazerem eles pra mim, eu dou um cruzeiro pra cada um de voceis “ propôs o Irineu.
                   _Nós vamos ver bem, se a gente encontrar esses cavalos, nos trazemos e ganhamos esses dois cruzeiros:
                   _”Mas olhe bem”, recomendou o Irineu, “Pois pra podê trabaiá, eu imprestei a pareia do Quim Gomes, e amanhã ele vai ocupar os animar dele!
                   Ela se foram os meninos rumo á escola e o Irineu continuou a procurar os animais fujões.
                   No outro dia cedo, apareceram os dois irmãos montados nos cavalos e foram levá-los ao Irineu e perguntaram:
                   _Ô seu Irineu, por acaso são estes os seus cavalos?
                   _” E sim”, respondeu o Irineu. “Onde oceis acharo ele?
                   _Eles estavam lá pra frente da subida do Laurindo Moreira, perto do Rodrigo Leandro, pastando próximo ao Lageado do Zé Fróis.
                   Irritado o Irineu reclamou. “Esses caipora além de vadia treis dias, ainda dero um prejuiso de dois cruzeiros; brigado gurizada”.
                   E lá se foram os dois irmãos, cada um com um cruzeiro no bolso, mas comentaram entre si:
                   Tomara que esse veio não fale  nada pro pai, sinão vamos levar aquela surra!.




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