FESTA DO DIVINO
“Viva o Divino Espírito
Santo”, bradou o João Néco, empoleirado em cima de um caixote de madeira, que
servia de embalagem aos famosos sabão coringa.
_ “Viva”, respondeu a pequena
multidão que estava em frente da Casa da festa, naquela fria manhã de maio.
O João da Laurinda , ateou
fogo no rojão “cabeça de macaco” que subiu aos ares e cujo estrondo era ouvido
a uma légua de distancia.
A banda, comandada pelo Zé
Melilo e Zé Gaspar e formada pelos músicos, Dante Biglia , Edmundo, Zé Biglia , Lázaro Rocha, Pedro
Carlos, Rochinha, Dito Paiva, Dito Paiva, Zé Paiva, Dito Lebre, Tiquinho,
Jacinto, Adolfo Benk, Adolfo Preto, João Costa, Afonso pedreiro, Richardi ,
entre outros, tocava um dobrado que arrepiava os ouvintes e saía tocando pelas
ruas da cidade, fazendo a tradicional alvorada.
Lá dentro da casa da festa,
a Elisa preta, a nhá Laurinda e a Rosa Costa acendiam o fogão de lenha, para
fazerem aquele gostoso café, que seria servido com o bolo francês feito pela
dona Euclídia do Antonio Bento, com as roscas feitas pela dona Ernesta Coluço e
as brevidades da dona Eudóxia Rezende.
Enquanto isso a banda de musica
seguia tocando pelas ruas em direção a casa dos festeiros, que este ano eram o
Joaquim Bíglia e sua esposa dona Maria, conhecida como Maria do Quim.
Quando a banda chegou, o
casal já estava posicionado em frente a casa , e ostentando orgulhosos a
bandeira do Divino.
Após ouvirem uma música em
sua homenagem , o casal, sempre escoltado pela banda e por uma pequena
multidão, dirigiu-se a casa da festa, onde seria entranada a bandeira e seria servido o santo café às pessoas presentes.
Após o café os festeiros
foram conferir como estavam os preparativos para a festa, e foram informados
pelo João Néco.
_ O Mané Rezende, o Arvico e
o Eurico da Mena, já salgaram os cabritos, os frangos e as leitoas e atearam
fogo nas fornalhas, lá pelas dez horas, já ta tudo assado, as latas de doce já
tão todas cheias, os bolos e os pães de ló já tão tudo na prateleira e o Jamil
Loureiro vai gritar o leilão.
Enquanto conversavam, a Maria
dava ordens na cozinha.
_ O Quim, mandou o Ivo e o
Zé Munhós picarem o boi e é pra vocês fazerem bastante carne com mandioca e é
pra todos comerem, não é pra ninguém que estiver aqui ficar sem comer viu.
_ “ Qui hora qui é pra fazer
o armoço?” Perguntou a Elisa.
_ “Podem começar já”,
respondeu a festeira “as carroças de lenha para a carruagem já estão chegando,
e até as dez horas já serão leiloadas.”
E assim começava a festa do
Divino Espírito Santo.
Alvorada com a banda de
música, os rojões, o desfile das carroças de lenha pelas ruas da cidade, o
leilão da lenha doada, em seguida o almoço para todos os presentes, sem
distinção ou discriminação.
A noite, a banda se acomodava no coreto,
montado em frente à casa da festa e tocava suas belas músicas.
No barracão coberto com sapé
e cercado com folhas de coqueiro e de cedrinho, eram leiloados, assados, bolos
e bebidas, os doces eram vendidos em um balcão improvisado e a festa
transcorria até a madrugada.
No domingo após a missa das
dez o povão vinha comprar assado para o almoço e a festa recomeçava.
As quatro horas o padre
rezava a missa e após realizava-se a procissão, com os festeiras carregando a
bandeira do Divino, pelas ruas da cidade, e quando retornavam à igreja eram
recepcionados pelos estouros dos rojões e da bateria, que consistia em um
conjunto de bombas que ligadas por um pavio iam estourando uma a uma.
Os congregados Marianos
distribuíam para as crianças os cartuchos, que eram uns saquinhos feitos de
papel crepom cheios de doces, balas e pedaços de bolo, e a criançada fazia a
festa.
Enquanto isso era feita a
escolha dos novos festeiros e desta vez foram sorteados o Rezendão e sua esposa
dona Eudóxia.
Em seguida a comitiva descia
para a casa da festa, sempre ao som da banda de música, e os novos festeiros
carregavam a bandeira.
A festa continuava até tarde
da noite e assim se realizava mais uma festa em louvor ao Divino Espírito Santo
na paróquia de Ribeirão Vermelho do Sul.
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