DEVOLVENDO OS CAVALOS
Lá pelos anos mil novecentos
e quarenta ou cinqüenta, o meio de
transporte mais comum em Ribeirão Vermelho eram as carroças.
Primeiro, por haver na
cidade só uns dois ou três caminhões e também pela precariedade das estradas do
município, já que naquela época não havia máquinas para conservá-las em
condição de transito.
Dentre os vários
carroceiros, como eram chamados os donos de carroças de aluguel, eu me lembro
de alguns: como o Sr. Irineu Barbosa, o Quim Gomes, o Jucão, o Anísio André, o
Ismênio Rodrigues que era mais conhecido como seu Mendes, o Noel Limboso, o Zé
Pereira entre outros.
Eles transportavam de tudo:
mudanças lenha, tijolos, sacos de milho, feijão, arroz, pequenos animais e
tantas outras coisas que precisavam serem transportadas.
Todos os dias, ao sair de casa, eles
tratavam bem suas parelhas para que os animais agüentassem o pesado trabalho, e
na maioria das vezes os animais eram levados á pastar nas beiras das estradas,
ou nos arredores da cidade onde o capim era abundante.
Naqueles tempos também, as
crianças, para poderem estudar, tinham que vir à cidade, pois na zona rural não
havia escola, e muitos tinham que caminhar até sete ou oito quilômetros para
estudar no grupo escolar de Ribeirão Vermelho do Sul, hoje: professor Lázaro
Soares.
Dentre essas crianças
estavam o Almíscar, que segundo se ouve, foi mais tarde um dos melhores
jogadores de futebol da região, e que hoje cartorario mora em Guarulhos, e seu
irmão Celso, já falecido.
Conta- se que, que em uma bela
tarde, após saírem da escola para irem embora para o sítio onde moravam, e ao
passar perto do antigo campo do pedregulho, eles viram dois cavalos pastando, e
como não vieram o dono dos animais por perto os irmãos confabularam:
_ Que tal se cada um de nós
montasse em um destes cavalos e fossemos montados pra casa?
_ Da pra ir até o sítio do
Fernando Melo, lá nós soltamos os animais e eles voltam pra traz !
E assim o fizeram, chegando
próximo a morada do Fernando Melo às margens do Ribeirão Vermelho, que corta a
propriedade que hoje pertence ao Banco da Terra, os irmãos soltaram os animais
que, encontrando pasto abundante e bastante água, ficaram por ali mesmo.
No outro dia, quando eles
iam novamente à escola, viram os animais pastando lá no alto do morro, e um
falou ao outro.
_ Vamos pegar os animais e
levá-los de volta à cidade?
_ “Que nada”, respondeu o irmão,
“ Deixe eles lá mesmo, assim os pobres animais descansam da carroça e pastam um
capim bem tenro”
E continuaram a pé estrada a
fora rumo à escola.
Ao chegarem na cidade,
encontraram o Irineu Barbosa que perguntou:
_ Ô gurizada, por acaso ocês
não viro uns cavalo lá pro lado onde oces mora?
Os mardito
sumiro onte e eu não to achano eles!
_”Não vimos nenhum cavalo,
não senhor” responderam os meninos.
_”Se voceis achá os cavalos
e trazerem eles pra mim, eu dou um cruzeiro pra cada um de voceis “ propôs o
Irineu.
_Nós vamos ver bem, se a
gente encontrar esses cavalos, nos trazemos e ganhamos esses dois cruzeiros:
_”Mas olhe bem”, recomendou
o Irineu, “Pois pra podê trabaiá, eu imprestei a pareia do Quim Gomes, e amanhã
ele vai ocupar os animar dele!
Ela se foram os meninos rumo
á escola e o Irineu continuou a procurar os animais fujões.
No outro dia cedo,
apareceram os dois irmãos montados nos cavalos e foram levá-los ao Irineu e
perguntaram:
_Ô seu Irineu, por acaso são
estes os seus cavalos?
_” E sim”, respondeu o
Irineu. “Onde oceis acharo ele?
_Eles estavam lá pra frente da
subida do Laurindo Moreira, perto do Rodrigo Leandro, pastando próximo ao
Lageado do Zé Fróis.
Irritado o Irineu reclamou.
“Esses caipora além de vadia treis dias, ainda dero um prejuiso de dois
cruzeiros; brigado gurizada”.
E lá se foram os dois
irmãos, cada um com um cruzeiro no bolso, mas comentaram entre si:
Tomara que esse veio não
fale nada pro pai, sinão vamos levar
aquela surra!.
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