sábado, 15 de março de 2014

As margem do Ribeirão Vermelho n° 20 com J. Maria da Silva

O CONTADOR DE HISTÓRIAS

                   As crianças que brincavam no terreiro da fazenda, pararam ao ouvir uma cantarola que vinha do caminho da roça.
- “ É o nho Honório que vem vindo”, falaram os meninos, “ele vai ter que contar mais uma história pra nós.”
                   E, lá vinha o velho Honório, todo suado, com a enxada sobre os ombros sujos pela terra  da lavoura, e cantando:
               
                        “No tempo da chuvarada
                          Eu fui passiá no pirizá
                          Na casa da sapaiáda
                          Que quando me viram
                          Viero encontrá”
                                  “ A sapa veia, muié do sapo
                                     diz que o sapinho tá muito fraco
                                     E o sapo véio, marido da sapa
                                     Mascano trapo, ispumano a boca
                                     De tanto pensa.”
                        “Lá na porta da cozinha
                          uma sápa gorda me deu sina
                          eu falava de i simbora
                          ele dizia pra mim ficá
                          póze aqui, qui nóis dorme junto
                          interrado qui nem difunto
                          no meio do pirizá”.
                                   “ Cruiz credo, ave Maria
                                      dormi cum sapa da perna fria
                                      e quando amanhece o dia
                                      fica catingando curimbatá.”
                   As crianças correram ao encontro do velho Honório, e, após aplaudirem  a música cantando com voz rouca e desafinada, logo cobraram o aplauso:
- Nho Honório o senhor tem que contar uma historia para nós.
- “Mas, meninos”, respondeu o velho, “eu preciso tomar banho e jantar, pois eu to morrendo de fome”.
- ” Espere ai”, falou um dos meninos que saiu correndo em direção à cozinha, logo voltando com um belo pedaço de pão e uma caneca com café com leite que entregou ao bom velhinho.
                   Sem ter argumentos, e após comer o pedaço de pão e beber o café, ele se sentou na mureta que  cercava o terreiro e cercado pela garotada curiosa, começou sua narrativa:.
                   “ Certa vez, um velho convidou seu neto para ir à cidade com ele, fazer compras.
                   Montaram no burro que o velho tinha, e lá se foram estrada a fora.
                   Ao passarem pela primeira venda, às margens da estrada, alguém comentou:
- Tão querendo matar o pobre animal onde se viu dois marmanjos montados num pobre burrinho?
                   O velho exclamou: “ Eles tem razão, meu neto, como você é jovem, voce desce e vai a pé e eu continuo montado”.
                   Logo ao passar por outra vendinha, ouviram este comentário.
- Que pouca vergonha, um baita homem a cavalo e o pobre guri a pé?
                   O velho concordou:
- É meu neto, eles tem razão, monte você no burro e eu vou andando.
                   Logo encontraram umas pessoas e comentaram.
- É o fim do mundo! Um baita rapagão a cavalo e um pobre velhinho a pé.
                   O velho pensativo falou ao neto:
- Deça daí , meu neto, vamos os dois a pé e vamos puxar o burro.
                   Ao encontrar com outras pessoas, estas falaram:
- Vejam que dois tolos, um baita burrão , gordo e forte e os dois tontos andando a pé.
                   Então o bom velhinho desabafou:
- Para contentar essa gente, eu acho que teremos que carregar o burro.
                   Moral da história: Por mais que você faça nunca contentará a todos.
                   As crianças ouvintes aplaudiram o nho Honório e pediram outra história, mas o velho decretou.
- Só depois que eu tomar um bom banho e saborear uma gostosa janta, contarei outras histórias.
  



Um comentário:

  1. Linda estorinha,eu conhecia,mas foi bom relembrar, Nhô Honorio,que lindeza de contador . Parabéns <Sidinei por nos presentear com suas façanhas.

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