A VISITA DO PASTOR
Lá pelos anos mil novecentos
e cinqüenta e dois, Ribeirão Vermelho preparava-se para receber a visita
pastoral do senhor bispo Dom José Carlos Aguirre, que viria de Sorocaba, que
era a sede de nossa diocese.
A Mercedes, a Lazarina e a
Maria do Antonio Bento, que eram as catequistas, já haviam preparados as
crianças para serem crismadas, e os crismandos já tinham escolhido os seus
respectivos padrinhos e madrinhas.
Os congregados Marianos,
foram à chácara da enfermeira, onde morava o João Lino, para cortar as taquaras
de pesca, que por lá era abundante, para enfeitar a rua do comércio, hoje
Justino Brizola , por onde o ilustre visitante iria passar.
As taquaras cortadas eram
transportadas pelos caminhões do Fabrício do João Paulino e do Percival, e eram
fincadas nos dois lados da rua e as pontas eram amarradas, formando assim uma
espécie de túnel.
O apostolado da oração e as
filhas de Maria, usavam folhas de laranjeiras e de outras árvores, junto com
pétalas de flores, para fazerem uma espécie de tapete, por onde o reverendo
andaria.
Os enfeites começavam no
pátio da igreja e ia até a entrada da cidade, onde hoje está o posto de
combustível.
No dia marcado paras a
chegada do senhor bispo, lá pelas três horas da tarde, um grande número de
pessoas reuniu-se no pátio do Zé Valério, como era conhecida a atual praça São
Pedro, mais precisamente em frente ao armazém do Manoel Marques, formando a
comissão de frente estavam entre outros o Waldomiro Silva, Antonio Pinto, Zé
Valério, Joaquim Brizola, Antonio Bento, Nenê Biglia , Pedro Carlos, Pedro
Pinto, Fabrício Léles, Paulo Coluço,
Aparecido Lúcio, Sula, Joaquim Moises, Quim Biglia, Amadeu, Chico Candinho, Chico
Belizze, Nelson Barbosa, Processo Martimiano, João Ramos, que juntos com o
padre Roberto aguardavam o ilustre visitante.
Quando surgiu na curva
próximo a casa do Antonio Pinto um automóvel preto, já começou o murmúrio:”É
ele, o bispo ta chegando”, e o povo ficou todo alvoroçado, quando o carro
passou em frente ao armazém do Alcíbio, subiu o primeiro rojão, e a banda de
música toda entusiasmada, tocou um dobrado, e ouviu- se “viva o senhor bispo” e
a multidão respondia “Viva Viva” e as palmas faziam coro ao espocar dos rojões.
Quando o carro parou, desceu
a figura tão esperada o dom José Carlos Aguirre, com sua batina preta, com um
crucifixo ao peito, e acenando à população com o chapéu côco, e tendo a seu
lado o abade dom Athanásio Merkle, da abadia de Itaporanga, que o acompanhava
em sua visita pastora.
As crianças balançavam as
inúmeras bandeirinhas feitas com papel vermelho simbolizando no ar, e do
Espírito Santo, os rojões espocavam no ar e a banda executava o famoso dobrado
“ Capitão Blood”.
Após os abraços e apertos de
mão, e o discurso de boas vindas, deu-se inicio à caminhada em direção à igreja
matriz, a frente do povo em procissão, o senhor bispo ia recebendo os
cumprimentos dos moradores, que, em frente as suas casas esperavam sua
passagem, para engrossar a procissão e ele respondia a todos abençoando os com
o sinal da cruz.
Em cada esquina que
passavam, subia um rojão soltado pelo João da Laurinda, pelo Adolfo Preto, ou
então pelo Eugenio Valério e a multidão ia rezando o terço repartido pelo João
Lino e pelo Inácio Pirai, intercalado pelos hinos: Louvando a Maria. O meu
coração é de Jesus. Eis me aqui bom Jesus e tantos outros populares na época.
Os congregados Marianos,
usavam fita azul, com a medalha de Nossa
Senhora, as filhas de Maria além da fita azul e a medalha, usavam um véu branco
sobre a cabeça. O apostolado da Oração usavam fita vermelha com a medalha do
coração de Jesus e o véu preto sobre a cabeça, e por sua vez, os adolescentes
que compunham a Cruzada Eucarística usavam sobre o ombro esquerdo cruzando o
peito, uma faixa amarela com uma cruz branca.
Entre tantas pessoas que
participavam daquela caminhada eu me recordo com saudades de alguns casais já
falecidos entre eles; Joaquim Moisés e dona Rita, Chico Moisés e dona Maria,
Antonio Bento e Euclidia, Martiminiano e Emilia , Nenê Biglia e Duducha, João
Paulino e Camila, Lázaro Rocha e Mariquinha, Quim Biglia e Maria, Waldomiro e
Aparecida, Zé Caetano e Paulina, Léles e Chiquinha, Dito Rezende e Júlia,
Rezendão e Eudóxia, João de Melo e Isaura, João Alfredo e Angelina, Fabrício e
Agailda, Dante e Joana, Gabriel Barra e Sinhana, Chico Guedes e Aurora, Ismênio
e Ana e tantos e tantos outros que não lembro, mas tenho certeza que todos
estão juntos a Deus pai lá no céu.
Ao chegar à igreja e após
ajoelhar-se em frente ao Tabernáculo no altar mor, o senhor bispo dirigiu-se ao
púlpito e agradeceu a calorosa e festiva recepção, e convidou a a todos para a
missa solene amanhã as dez horas e pronunciou, em latim a sua benção
apostólica.
O bispo – Dominus Vobiscum
O povo – Et cum Spiritu Tuo
O bispo _ Benedicamus Dómino
O povo _ Deo Gratas
O bispo _ Benedicat Vós Omnipotens Deus Pater
Et Fillius Et Spiritus Sanctus
O povo _ Amém.
No domingo foram chegando os
fiéis, as mulheres sentavam nos bancos à
direita, e os homens ocupavam os bancos a esquerda.
O Coral, formado pelos jovens da época:
Cecília, Clari, Teresinha, Mercedes, Alcidina, Maria da Euclidia. Mais tarde
Irmã Teresinha, Adail do Antonio Pinto, hoje Irmã Fátima, Cidinha , Leda,
Jarbas Ribeiro, Nenê da Auta, Juca de Melo, Bardo, João Bento, Zé Coluço, Nenê
Brizola entre outros, regidos pela professora dona Gessi, cantavam os hinos
referentes a Santa missa solene.
No transcorrer da cerimônia
foram crismados os adolecentes, que entraram na igreja entoando o cântico:
“Minha fé de Cristão, no
batismo
Meus padrinhos juraram
por mim
Hoje venho jurá-la eu
mesmo
Eia, pois meu Jesus eis
me aqui
Hoje venho jurá-la eu mesmo
Eia pois meu Jesus eis
me aqui”.
Todos os fiéis presentes
cantavam junto, e muitos se emocionavam, chwegando às lágrimas pela beleza da
solenidade.
O senhor bispo ungia cada
crismando, confirmando o propósito de cristandade de cada adolescente.
E assim, realizava-se mais
uma visita pastoral, feita à nossa paróquia pelo saudoso. Dom José Carlos
Aguirre, Bispo de Sorocaba.
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