O
BAILÃO DO JOÃO ARRUDA
Nos
anos cinqüenta, quando Riversul ainda se chamava Ribeirão Vermelho do Sul,
realizavam-se memoráveis bailes que eram chamados bailes familiares, pois eram
realizados nas casas, onde as famílias recebiam seus amigos, para dançarem em
amplas salas da residência.
O
sanfoneiro Waldomiro Silva, acompanhado pelos clarinetistas Dante Biglia e
Lázaro Rocha, pelo Richardi no cavaquinho, Nazir Costa no violão e o João da
Laurinda no pandeiro, tocava lindas valsas do Zequinha de Abreu: como Branca, Zardes
de Lindóia, Rapaziada do Brás e os chorinhos Bicho Carpinteiro, Lico Ticono
Fubá e os vários sucessos da época, entre os vários acordes.
Em
um sábado, o João Arruda e sua esposa dona Maura, abriram as portas de sua residência, para os amigos
dançarem um animado baile em sua ampla sala de visitas.
O
baile corria animado, quando o João Arruda decretou: “ Agora é a hora do “Quero
Mano”, que consistia no seguinte: o sanfoneiro tocava um arrasta-pé, e dava
freqüentes parada na música, e nestas paradas, do par que ficava frente á frente
com o sanfoneiro, o cavalheiro era obrigado
a recitar um verso.
E
os versos eram mais ou menos assim.
“Eu
plantei o roxo n’ água
e o azul na beirinha
Quem quizer que colha o roxo
Que o azul é planta minha”
A
música continuava, nova parada e novo verso:
“No
alto daquela serra
rola pau, rola pinheiro
Quem não sabe dizer verso
Não estorva o companheiro “
Dali
a pouco mais um verso:
“Garrafão
tem fundo largo
Botija não tem pescoço
Pedaço de telha é caco
Banana não tem caroço”
Nova
parada e as mulheres
Também
eram homenageadas:
“
As mulheres quando se reúnem
a falar da vida alheia
começam na Lua Nova
e terminam na Lua Cheia”
Nova
parada na música e outra homenagem à rainha do lar:
“
A mulher foi feita da costela
e nos dá tanta alegria
já pensou se fizessem ela
de uma carne mais macia”?
Chegou
a vêz do Zé Maguidala que dançava com a
Isabel, sua colega de trabalho na padaria da dona Ironi. Ele pigarreou e lascou
esse verso:
“Lá
no arto daquela serra
tem um pé de carrapicho
Quem ponha a mão por baixo
Pega na barba do bicho”.
Coitado
do Zé ficou sozinho, a dama largou-o no meio da sala e saiu furiosa
esbravejando: “Ô home sem vergonha , falano deboche no meio do povo, home
desprovado, só serve pra invergonhá a gente! Onde se viu falá im pegá na barba
do coisa feia?”
Após
muitas risadas, o baile continuou e o Maguidala ficou matutando: “O que foi qui
eu falei errado, prela largar eu sozinho no meio da sala?”.
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